As 100 linguagens da infância. P´ijil ololetik (meninas sábias e meninos sábios)

“El Melel” é a forma como as meninas, meninos e adolescentes que trabalham vendendo artesanato, brinquedos ou comida na Praça Catedral nos nomeiam e o espaço onde se compartilham brincadeiras, pinturas, leituras, risos, trabalhos colaborativos, sonhos e medos, o lugar onde refletimos sobre as questões que lhes dizem respeito, como os seus direitos, identidade, território, trabalho digno, violência, família, escola ou alimentação.

 

 

 

 

 

 

 

 

Nosso ponto de encontro é nos mastros localizados na extrema direita da praça, cuja base se transforma em dois escorregadores, onde o desafio de cada menina e menino é subir sem usar as mãos. Eles se afastam alguns passos e correm com toda a energia até chegar ao topo. Quem consegue o feito fala como conseguiu, quantas vezes praticou, quantos passos deu e até quem lhe ensinou a técnica correta. Esta narração é acompanhada de uma, duas, três ou mais demonstrações, quantas forem necessárias para que todo o grupo a conheça. Quem tem menos de 5 anos consegue realizar esse desafio coletivo com as mãos. Em alguns casos, são as irmãs e os irmãos mais velhos, que cuidam deles e os acompanham, que os ajudam a subir e a cumprir a missão de se prepararem para este desafio num território que à tarde se transforma num espaço pedagógico.

Durante os Círculos de Aprendizagens colocamos um paraquedas para delimitar o nosso espaço de trabalho, deitamo-nos e colocamos a caixa de histórias ilustradas por muitas imagens que meninas e meninos interpretam a partir do seu imaginário e da realidade do dia a dia. Kevin, Carlos, Ángel, Zulmi, Cheo e Sofi contam que não sabem ler ou têm dificuldade. Sofi, de 8 anos, tem uma hipótese sobre o porquê “eles não sabem ler porque os pais não os ajudam ou porque também não foram à escola” e Zulmi, de 7 anos, complementa “sim , eu sei ler, mas só com desenhos com letras, não sei.” À medida que revisam as histórias e compartilham as imagens, os diálogos começam a aparecer e as histórias são criadas.

Quando estamos deitados no paraquedas escolhemos um livro para contar uma história que tenha relação com as imagens, falamos sobre o “Ik’al” que é a escuridão na língua tsotsil e tseltal, sobre medos, sobre o que acontece à noite quando vamos ao banheiro e nossa casa é longe e ninguém nos acompanha, ou da “La Llorona” (A Chorona) que assusta as meninas quando elas estão acordadas ou brincando e não vão dormir cedo.

Lupita de 8 años habla sobre las groserías al ver una imagen de un niño con pocos dientes, “cuando nosotros decimos groserías nos salen bolas que pican en nuestra boca porque decimos muchas groserías, por eso no hay que decir groserías”. Nos cuenta que en el parque donde trabaja su familia muchas personas dicen groserías, porque se pelean, no quieren que otras niñas o niños jueguen en las jardineras, porque tienen envidia o porque no saben jugar. Una solución que proponen es que siempre recordemos nuestros acuerdos de no decir groserías y cuidar a las niñas y niños pequeños.

Enquanto continuamos ouvindo as histórias e anedotas, a noite se faz presente e a luz natural começa a diminuir, levantamos para colocar os livros na caixa de histórias, arrumar o paraquedas e jogar “hielito-carrillito”, um jogo sem fim ou, até ficarmos cansados.

Cuando llega la hora de partir, nos colocamos en círculo en el suelo y realizamos el ejercicio del agradecimiento a la madre tierra por los alimentos “Kolabal jmetik balumil li ta lobajel ja” (Gracias madre tierra por la fruta que es). El momento de la fruta marca la conexión entre nuestros alimentos, nuestras creencias y a quienes agradecemos por el día; desde el campesino que cultiva la fruta, la lluvia que hace que crezca la comida, la familia que nos cuida, a nosotros porque venimos a jugar.

Después de recoger los materiales acompañamos a las niñas y niños más pequeños a sus puestos para platicar con sus mamás sobre la salud, la escuela, los trabajos que hicieron sus hijas-hijos, a quiénes ayudaron, cómo se comportaron y si han cuidado a sus hermanitas o hermanitos más pequeños y nos despedimos agradeciendo la participación de sus hijas-hijos durante la tarde-noche.

Melel Xojobal1, em tsotsil significa “luz verdadeira” que para nós é olhar o mundo através dos olhos das meninas, meninos e adolescentes, desde seus sorrisos, alegrias, sonhos, fortalezas, capacidades, entusiasmo e aprendizagens que nos oferecem em cada momento que podemos compartilhar e acompanhar.

O nosso desejo é que as crianças trabalhadoras sejam vistas como agentes ativos/as de mudança social a partir dos seus territórios. Para isso, criamos com eles/elas esses espaços de encontro, reflexão e processos participativos onde descobrimos a força da unidade como grupo, promovemos suas experiências e voz sobre tudo o que é vivenciado desde ser menina, menino e adolescente trabalhador/a.

Ricardo Alejandro Bautista Salas “Richi”. Educador de calle

NOTA:
1. Melel Xojobal é uma organização da sociedade civil em San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, sul do México. Criamos processos educativos e participativos com meninas, meninos e adolescentes trabalhadores/as para a construção da paz, promoção, defesa e exercício de seus direitos. www.melelxojobal.org.mx Facebook/Twitter/Instagram @melelxojobal

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