Tema. O direito de discordar

O artigo de María Antonia Irazábal centra-se na noção de deficiência que nós, adultos, temos, tão diferente da abordagem que as próprias crianças têm.

Nossa proposta de inclusão dependerá basicamente dessa noção. Se for considerado como um diagnóstico, busca-se apenas a reparação, a aproximação da “normalidade”. Se, no entanto, o potencial individual for valorizado, diversas experiências de conhecimento podem ser oferecidas

Sílvia Majoral

Na escola, as crianças têm o direito de discordar?

Às vezes fui repreendida, referindo-me a uma criança que agiu de forma diferente das outras: “Claro, como você deixou ela fazer isso…”

Desde muito pequenas as crianças têm algumas coisas muito claras.

A determinados adultos también nos pasa, a menudo, que no nos apetece, no nos gusta o no queremos hacer aquello que “toca” en aquel momento.

Muitas vezes também acontece com certos adultos que não temos vontade, não gostamos ou não queremos fazer o que “temos que fazer” naquele momento.

Tem festa na escola e você tem que cantar uma música na frente de todo mundo.

Festa de carnaval, hora de se fantasiar.Pátio, é hora de brincar.E tantas situações parecidas.

Em uma sala de aula passamos muitas horas juntos. Cum plicidades e histórias compartilhadas são tecidas. Nos conhecemos cada vez mais, expressamos o que gostamos, o que não gostamos, o que nos incomoda, como nos sentimos, momentos de mau humor ou dias ruins, alegria… Todos nós temos nosso caráter e nossos momentos, tanto os mais velhos como os pequenos. Acho importante não esquecer as diferenças do nosso dia a dia: se fomos ao teatro, uns irão gostar outros não. Todas as opiniões são respeitáveis. Por que você gostou? E por que você não? Qualquer coisa: uma atividade, uma comida, uma cor, um cheiro… pode se tornar um tema para refletir a diversidade de escolhas, gostos e opiniões.

Obviamente todos têm que fazer tudo para aprender, para experimentar e descobrir as suas preferências e capacidades: têm que pintar, mesmo que prefiram jogar futebol, têm que correr, mesmo que prefiram ter calma, têm que superar timidez na hora de atuar… Mas tudo pode ser feito aos poucos, com respeito e tranquilidade. Em princípio, eles ainda têm muito tempo.

Um dia, quando estávamos ensaiando uma música, notei duas crianças do meu grupo que tinham uma expressão de sofrimento no rosto. Vale a pena? Elas têm que fazer isso? (Deixo de lado aqui a questão dos shows e festas na escola, que também precisariam ser muito conversados ​​e refletidos.) Mais tarde, conversei com todo o grupo e disse que, se houvesse alguém que estivesse passando por uma situação terrível, poderia se esconder atrás de um colega de classe e mexer sua boca fingindo cantar ou me contar. Duas crianças se aproximaram de mim para me dizer que preferiam não subir ao palco. E então fizemos isso. Suas famílias, mais tarde, também apreciaram porque parece que as crianças transmitiram suas preocupações em casa, conversaram sobre isso e até tiveram dificuldade para dormir. Sabemos que durante a vida sofremos, mas há casos em que, se puder ser evitado, não vale a pena.

Na nossa escola, quando chove muito não sabemos para onde ir e às vezes vamos para uma sala grande assistir a um curta-metragem. A maioria das crianças gosta; mas descobri uma que não.

Imagino que ele me ouviu quando disse à minha companheira: “Não podemos sair para debaixo do toldo? Temos que assistir a um filme? Ele também pôde deduzir pelo meu tom de voz que eu não estava com vontade nenhuma. Às vezes propomos opções paralelas: um pequeno espaço de movimento, teatro de marionetes… Mas naquele dia não fizemos isso.

O menino estava confiante o suficiente (ele havia começado na turma há pouco tempo) para me dizer:
– Eu não quero ir ver o filme.
– Você não gosta?
– Não. E você?
– Sim, mas agora não estou com vontade. E você? Você não gosta de nenhum filme ou gosta de algum?
– Nenhum.
– Você vai ao cinema?
– Não. Eu simplesmente não consigo resistir.

Ele me explicou com maturidade e confiança! Sugeri sair sob os toldos do pátio ou ficar para brincar na sala. Ele queria sair e pediu minha bicicleta. Insisti muito para ele não se molhar, não sair da área do toldo. De qualquer forma, estava bem equipado.

Eu também disse a ele que estava ali ao lado dele, com o resto do grupo, que depois tentaria sair um pouco com os outros, se não chovesse tanto, que se ele precisasse de alguma coisa ele poderia me procurar. Fiquei um tempo com ele porque me deu pena ao vê-lo ali sozinho, mas o vi pedalando e gritando: Que bom! Estou sozinho! Estou sozinho! Mais feliz do que na Páscoa.

Mais tarde, ele veio me dizer que quando passou entre os dois toldos se molhou um pouco. Que responsável! Eu tinha pedido para ele não sair e tentar não se molhar e ele estava sofrendo porque a água entrava entre os dois toldos.

Depois de um tempo acalmou e todos pudemos sair com guarda-chuvas para lhe fazer companhia.

Pensando neste pequeno episódio percebo que pode ser um sinal de respeito pela diversidade. Às vezes falamos de diversidade para nos referirmos apenas a casos especialmente graves dentro da sala de aula e esquecemos que a diversidade está em cada um de nós.

É reconfortante quando se consegue criar um clima em que as crianças se sintam capazes de expressar as suas ideias e sentimentos, de reclamar, não por capricho, mas por necessidade ou preferência.

Um exemplo de outra turma me vem à mente: na sala havia um grupo de crianças que adorava jogar bola. Algumas meninas eram mais calmas e, quando deixei escolher, preferiram desenhar. Tenho uma imagem engraçada gravada na cabeça: no pátio, a maior parte dos meninos corria atrás da bola e um pequeno grupo de meninas puxavam as cadeiras, conversavam e respiravam, lá fora. Brinquei dizendo-lhes que não tinham agulha para tricotar ou descascar batatas como as mulheres faziam nas ruas, nas aldeias… Isto mais tarde deu-nos um tema para investigar as diferenças e semelhanças entre meninos e meninas.

O tratamento diversificado pode ser alcançado com um bom clima na sala de aula, mas as professoras também têm que saber valorizar a discrepância, a diversidade de opiniões e procurar sempre uma forma de apresentá-las e torná-las visíveis. Uma boa maneira é mostrar-se às crianças , revelando suas preferências, gostos… “Hoje estou tendo um dia ruim” “Vi um filme que adorei” “Preciso de um tempo para deixar que minha raiva vá embora”…

É preferível tentar não mostrar as coisas de uma só forma, mas sim buscar mil possibilidades, às vezes até aquelas que não estão na aula. É bom recorrer frequentemente a comparações com outras culturas, crenças ou mundos distantes. Existem tantas maneiras de pensar, sentir e viver como pessoas na Terra.

Depois de ter trabalhado durante anos em diferentes escolas e vários grupos de docentes, você percebe que é raro e difícil ser crítico, ter ideias próprias e discordar do que a maioria diz.

Se não começarmos por nós mesmos, como faremos para que as crianças desenvolvam a personalidade e o espírito crítico?

Sílvia Majoral
Professora de educação infantil

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